MANEJO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS EM MILHO

Métodos de Controle

A busca de alternativas que diminuam os custos, mantendo ou melhorando a eficiência do controle de plantas daninhas, está diretamente relacionada com um sistema integrado de práticas agrícolas. O manejo integrado de plantas daninhas deve ser utilizado com o objetivo de racionalização do uso dos herbicidas, do ambiente e dos custos de produção.

1- Método preventivo

A importância do método de controle preventivo está na premissa de evitar a introdução, o estabelecimento e a disseminação de novas espécies de plantas daninhas, uma vez que a erradicação é economicamente inviável em grandes áreas. Segundo Gazzieiro et al. (1989) a disseminação das plantas daninhas está intimamente ligada às atividades do homem, tais como: o uso de sementes contaminadas, máquinas agrícolas e animais. Algumas práticas preventivas para evitar a disseminação devem ser adotadas (Gazzieiro et al., 2001):

  • utilizar sementes de boa qualidade, provenientes de campos controlados e livre de dissemínulos;

  • promover a limpeza rigorosa de todas as máquinas e de todos os implementos, antes de serem transportados para áreas onde não existam tais plantas daninhas, ou para onde ocorram em baixas populações, bem como não permitir que animais se tornem veículos de disseminação;

  • controlar o desenvolvimento das invasoras, impedindo, ao máximo, a produção de sementes e/ou estruturas de reprodução nas margens de cerca, estradas, terraços, pátios, canais de irrigação ou qualquer outro local da propriedade;

  • utilizar qualquer método para o controle dos focos de infestação, desde a catação manual até a aplicação localizada de herbicida e;

  • utilizar a rotação de culturas e de herbicidas como meio para diversificar o ambiente.


2- Método cultural

O método de controle cultural normalmente é utilizado pelos agricultores sem que estes tenham a noção de estar utilizando mais uma técnica de manejo de plantas daninhas. Esse método consiste na utilização das características da cultura e do meio ambiente que aumentem a capacidade competitiva das plantas de milho, favorecendo seu crescimento e desenvolvimento. Entre as medidas culturais adotadas encontram-se: o uso de variedades adaptadas às regiões, o espaçamento da cultura, densidade de semeadura, época de semeadura adequada, uso de cobertura morta, rotação de culturas e adubações adequadas.


2.1- Uso de cultivares adaptadas

A escolha de cultivares que se desenvolvem mais rapidamente e cobrem o solo de maneira mais intensa, que controlem melhor as plantas daninhas e sofrem menos com a interferência que venha surgir. Assim, deve-se escolher as cultivares mais adaptadas à região, capazes de apresentar resistência, ou tolerância às principais pragas e doenças predominantes nesta região, que sejam mais agressivas em seu crescimento, além de boa produtividade.


2.2- Arranjo de plantas

Entre as práticas de manejo de plantas daninhas que objetivam a redução do uso de herbicidas podem ser destacadas o emprego de cultivares mais competitivas e modificações do arranjo de plantas do milho, como redução no espaçamento entre fileiras e aumento na densidade de plantas da cultura.

A modificação no arranjo de plantas possibilita o maior e mais rápido fechamento do solo no espaçamento mais estreito e na densidade mais elevada, o que aumenta a competição da cultura e favorece a supressão das plantas daninhas. O arranjo mais eqüidistante das plantas de milho com redução do espaçamento entre fileiras diminui o potencial de crescimento das plantas daninhas por aumentar a quantidade de luz que é interceptada pelo dossel da cultura. Porém, qualquer modificação no arranjo de plantas deve respeitar as características do ambiente e da cultivar.

A densidade de semeadura é definida como o número de plantas por unidade de área, e apresenta importante papel no rendimento de uma lavoura. Cada cultura apresenta uma densidade ótima (quando o rendimento é máximo), que é variável para cada situação e depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e disponibilidade de nutrientes. A existência de alterações nesses fatores afetará a densidade ótima de semeadura.

A escolha de um híbrido de milho de menor porte permite cultivos em menores espaçamentos e maiores densidades. Estes híbridos são capazes de se desenvolverem precocemente, apresentam pouca massa vegetal, e as plantas são menos auto-sombreadas (proporcionando uma maior penetração da luz solar na lavoura) (Mundstock, 1978; Rizzardi et al., 1994b).

A maior interceptação de luz, associada ao rápido fechamento do solo, pode permitir a melhoria da eficiência do controle das plantas daninhas com herbicidas aplicados em pré-emergência. Ou seja, os herbicidas de pré-emergência podem atuar no manejo integrado no início do ciclo da cultura, que será complementado pelo rápido e intenso fechamento do dossel proporcionado por altas populações de plantas de milho ou por reduções do seu espaçamento.


2.3- Época de semeadura

A época de semeadura é limitada por determinados fatores, como disponibilidade hídrica, temperatura e radiação solar. A época mais adequada para a semeadura do milho é aquela em que o período de floração coincide com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos, com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar, desde que sejam satisfeitas as necessidades de água pela planta (Gomes, 1991; Rizzardi et al., 1994a). Nas condições tropicais, devido à menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura. Na região Sul do Brasil, o milho costuma ser plantado de agosto a setembro; já nos estados do Centro-Oeste e Sudeste, a época de plantio varia de outubro a novembro.

2.4- Culturas de cobertura

A crescente utilização do sistema de semeadura direta está relacionada à maior dificuldade de controle de plantas daninhas e ao incremento da necessidade de herbicidas em algumas culturas. A impossibilidade de revolvimento do solo na semeadura direta implica a não-eliminação das plantas daninhas por meio da operação de preparo do solo para a semeadura. Por outro lado, a manutenção da cobertura vegetal sobre o solo no sistema de semeadura direta restringe a emergência de plantas daninhas, em comparação com o solo descoberto. Com a utilização de culturas de cobertura, procura-se aproveitar tanto os efeitos físicos quanto os alelopáticos dessas plantas, reduzindo a infestação de plantas daninhas.

No sistema de plantio direto, antes da semeadura da cultura é necessário a realização da operação de manejo, com o objetivo de controlar plantas daninhas e formar a cobertura morta na qual a cultura será semeada. O manejo mecânico pode ser realizado com roçadeiras, rolo facas ou mesmo grades niveladoras de disco destravadas. A eficiência desse método depende da época de sua realização, sendo esta normalmente mais eficiente quando realizada no estádio de florescimento pleno da cobertura vegetal e para espécies de cobertura como ervilhaca e nabo-forrageiro.

No manejo químico, os herbicidas a base de glyphosate são os mais utilizados, entretanto, apesar da grande eficácia para as gramíneas, nas doses normais, são pouco eficientes para várias espécies dicotiledôneas, especialmente nas fases mais avançadas do desenvolvimento da planta daninha. Assim, a associação desses herbicidas com latifolicidas tem proporcionado, nessas situações, o controle de maior número de espécies daninhas.

2.4.1.- Alelopatia

As plantas daninhas podem ter seu desenvolvimento suprimido ou estimulado por meio de plantas vivas ou de seus resíduos, os quais liberam substâncias químicas no ambiente (Putnam & DeFrank, 1983; Rice, 1984).

A utilização da alelopatia para o manejo de plantas daninhas é sugerida por Kohli et al. (1998), através de três propostas:

  • transferência de genes responsáveis pela síntese de aleloquímicos entre as culturas;

  • uso de rotação de culturas, combinando culturas companheiras capazes de reduzir a população de plantas daninhas por meio do seu potencial alelopático e;

  • uso de aleloquímicos obtidos das plantas como herbicidas, sendo um método seguro e efetivo, uma vez que são produtos naturais biodegradáveis e não persistem no solo como poluentes.

A adição da parte aérea da leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) De Wit) ao solo proporciona menor desenvolvimento das plantas daninhas, devido aos efeitos físicos da cobertura do solo, e alelopaticos, através da liberação, para o solo, de substância aleloquímicas (Prates et al., 2003).


2.5- Rotação de culturas

No controle de plantas daninhas em milho devem-se utilizar práticas conjugadas e integradas que incluam a utilização da rotação de culturas. A rotação de culturas quebra a especificidade de uma população de plantas daninhas a uma determinada cultura, prevenindo o surgimento de altas populações de certas espécies de plantas daninhas mais adaptadas a certa cultura. Além disso, a rotação de culturas propicia alternância de métodos e herbicidas usados no controle das plantas daninhas.

Através da alternância do cultivo de diferentes espécies vegetais, em seqüência temporal numa determinada área, há a modificação da intensidade de competição e os efeitos alelopáticos a que são submetidas as plantas daninhas, diminuindo a instalação de uma comunidade padrão de infestantes, proporcionando uma menor infestação do que em um sistema de sucessão de culturas contínuo; além de encontrar a oportunidade da realização de rotação de herbicidas em uma mesma área de cultivo, dificultando a perpetuação de espécies e o aparecimento de biótipos resistentes (Oliveira & Constantin, 2001; Gazzieiro et al., 2001).


2.6- Adubação

Uma cultura nutrida se desenvolve adequadamente, cobrindo o solo mais rapidamente, especialmente quando a adubação está localizada na linha de plantio, favorecendo a cultura, e não as plantas daninhas. A correção do solo pode eliminar plantas daninhas mais adaptadas à condição de solos ácidos, como a samambaia (Pteridium aquilinum) e o capim-favorito (Rhynchelytrum repens) (Oliveira & Constantin, 2001).


3. Método mecânico

O controle físico é realizado através da ação de arrancar ou cortar as plantas daninhas. Este método pode ser realizado manualmente (capina manual) ou com o auxílio de ferramentas e implementos (capina mecânica).


3.1- Capina manual

A capina manual é um método amplamente utilizado em pequenas propriedades. Geralmente, os produtores utilizam duas a três capinas com enxada durante os primeiros 40 a 50 dias da lavoura. A partir daí, o crescimento da cultura contribuirá para a redução das condições favoráveis à germinação e ao desenvolvimento das plantas daninhas. A capina deve ser realizada evitando solos úmidos, preferencialmente em dias quentes e secos. Cuidados devem ser tomados para evitar danos às plantas do milho. Esse método de controle demanda grande quantidade de mão-de-obra, visto que a produtividade dessa operação é de aproximadamente 8 dias-homem/ha (Silva et al., 1987).

3.2- Capina mecânica

A capina mecânica usando o cultivador, tracionado por animais ou tratores, ainda é utilizado no Brasil. As capinas mecânicas, assim como as manuais, devem ser realizadas nos primeiros 40 a 50 dias após a emergência da cultura. Nesse período, os danos ocasionados à cultura são minimizados, comparados com os possíveis danos (quebra e arranquio de plantas) decorrentes de capinas realizadas tardiamente. O cultivo deve ser realizado superficialmente, de preferência em dias quentes e secos, com solo seco, aprofundando-se as enxadas o suficiente para o arranquio ou o corte das plantas daninhas. As capinas mecânicas são geralmente realizadas com enxadas do tipo asa-de-andorinha ou picão (Figura 1). A produtividade deste método é de aproximadamente 0,5 a 1 dia-homem/ha (tração animal) e 1,5 a 2,0 h/ha (tratorizada) (Silva et al., 1987).



Figura 1 – A) Enxadas do tipo “asa-de-andorinha”; B) picão; ambos utilizados no sistema mecânico de controle de plantas daninhas.

4- Método químico

O método de controle químico de plantas daninhas consiste na utilização de produtos herbicidas registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e Secretarias de Agricultura. A seleção de um herbicida deve ser baseada nas espécies de plantas presentes na área a ser tratada, bem como nas características físico-químicas dos produtos.

Na aplicação, deve-se verificar as condições climáticas (temperatura e umidade relativa do ar, vento, e possibilidade de chuva), bem como as condições do solo ou das plantas. Para a aplicação de herbicidas pré-emergentes, verificar as condições de umidade do solo para o manejo das plantas daninhas antes da sua emergência. As aplicações em pós-emergência são realizadas após a emergência das plantas daninhas e da cultura; devem ser observadas as condições em que se encontram as plantas daninhas, evitando aplicar os herbicidas em condições de estresse destas plantas. É de grande importância verificar a persistência média no solo dos herbicidas utilizados nas culturas antecessoras, uma vez que eles podem tornar-se fitotóxicos para a cultura seguinte. Levar em consideração, na escolha de um herbicida para o controle de plantas daninhas, o intervalo de segurança, que é o intervalo mínimo entre a aplicação e a colheita da cultura.

O aparecimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas depende de vários fatores, como adaptabilidade ecológica e capacidade de se proliferar, longevidade e dormência das sementes da espécie ou do biótipo sob seleção, freqüência de utilização de herbicidas com mesmo mecanismo de ação e a sua persistência no solo, eficácia do herbicida e métodos adicionais empregados no controle das plantas daninhas.

De acordo com Kissmann (2000), a área de milho tratada com herbicidas, no Brasil, correspondia a apenas 28%, contra 98% e 65% das áreas plantadas na Argentina e no Uruguai, respectivamente. Entretanto, na safra de 2006/2007 podemos estimar que 60 a 70% da área de plantio com milho foi tratada com herbicida (Karam & Oliveira, 2008). As alternativas de herbicidas para o controle de plantas daninhas na cultura do milho estão representados nas Tabelas 1 e 2 (Rodrigues & Almeida, 1998; Rizzardi, 2002; ANDEF, 2004, MAPA, 2008).

Tabela 1 – Herbicidas utilizados para o controle de plantas daninhas, na cultura do milho, em aplicação pré-emergente


Princípio Ativo

kg ha-1

acetolachlor

2,0 – 4,0

alachlor1

2,4 – 3,36

alachlor + atrazine

2,94 – 4,32

atrazine

1,5 – 4,0

atrazine + isoxaflutole2

1,245 + 0,051

atrazine + metolachlor

2,5 – 4,0

atrazine + s-metolachlor

2,15 – 2,97

atrazine + simazine

1,75 -3,5

cyanazine

1,5 – 2,5

2,4-D

1,2 -2,3

dimethenamid

1,125

isoxaflutole3

60

linuron

0,6 – 2,0

metolachlor4

2,40 – 2,88

s-metolachlor4

1,44 – 1,68

pendimethalin5

1,00 – 1,75

simazine5

1,5 – 4,0

simazine + cyanazine

2,4 – 4,0

trifluralin

1,35 – 2,4


1 Utilizar a maior dose em solos com teor de matéria orgânica superior a 5%.

2 Não aplicar em solos arenosos que recebam calagem pesada no intervalo

de 90 dias, e em híbridos e variedades de milho branco, milho pipoca e linhagens.

3 Utilizar a maior dose em solos com teor de matéria orgânica superior a 4%.

4 Utilizar em solos com teor de matéria orgânica superior a 2% e baixa infestação de

capim marmelada.

5 Utilizar a maior dose em solos com teor de matéria orgânica superior a 3%.




Tabela 2 – Herbicidas utilizados para o controle de plantas daninhas, na cultura do milho, em aplicação pós-emergente


Principio Ativo

kg ha-1

alachlor + atrazine

3,12 – 4,16

ametryn1

1,5 – 2,0

amônio-glufosinato2

0,3 – 0,4

atrazine + metolachlor3

3,0 – 4,0

atrazine + óleo vegetal3

2,0 – 2,8

atrazine + simazine

1,75 – 3,0

bentazon

0,72 – 1,2

carfentrazone-ethyl

0,02 – 0,028

2,4 - D4

0,2 – 1,0

foramsulfuron + iodosulfuron methyl

0,038 – 0,048

glyphosate2

0,36 – 2,16

imazapic + imazapyr5

52,0 + 17,5

mesotrione

0,144 – 0,192

nicosulfuron6

50 - 60

dicloreto de paraquat2,7

0,3 – 0,6

simazine + cyamazine8

2,4 – 4,0

sulfosate2

0,48 – 2,88

tembotrione

0,43 - 057



1 Utilizar nas entrelinhas, após o estádio de 50 cm de altura do milho. Adicionar adjuvante.

2 Utilizar em pós-emergência dirigida ou no manejo de plantas daninhas em plantio direto.

3 Aplicar quando as gramíneas estiverem no estádio de três folhas e as folhas largas, no estádio

de seis folhas

4 Aplicar estando o milho com, no máximo, quatro folhas, antes da formação do cartucho.

5 Somente recomendado para o sistema de produção CLEARFIELD, com os híbridos C909, C901

e C806.

6 Não utilizar em misturas com inseticidas organofosforados. Verificar susceptibilidade de

cultivares.

7 Aplicar nas entrelinhas, em jato dirigido, quando o milho estiver com mais de oito folhas.

8 Utilizado para o controle de folhas largas com até quatro folhas. Pode ser aplicado até a 4a folha

do milho.


4.1- Aplicação em pré-semeadura

Esta aplicação consiste na eliminação de plantas daninhas antes da semeadura da cultura, utilizando-se herbicidas de contato ou sistêmicos. O período entre a aplicação do herbicida e a semeadura da cultura varia em função de características do herbicida, da dose utilizada, da cobertura vegetal antecessora, da textura do solo e das condições ambientais.

É importante lembrar que as plantas daninhas interferem no desenvolvimento das plantas de milho com intensidade variável em função da época de ocorrência, da população e das espécies presentes. A ocorrência de elevada população de plantas daninhas no início do desenvolvimento da cultura pode proporcionar perdas acentuadas na produtividade se o controle não for adequado e realizado nesta mesma época. Essa situação é freqüentemente observada quando a dessecação no sistema de plantio direto é realizada alguns dias antes da semeadura. Nesses casos, quando a cultura emerge, as plantas daninhas estão em estádios mais avançados de desenvolvimento, e, assim, a população destas plantas irá determinar a época em que o controle deve ser iniciado.

Nas aplicações de pré-semeadura, podem-se, em determinadas situações, utilizar herbicidas dessecantes associados a outros com residuais. Essa prática pode ser vantajosa uma vez que, numa única operação, faz-se a dessecação da cultura de inverno que vai ser utilizada como cobertura morta e também a aplicação do herbicida residual ou pré-emergente, que terá o papel de manter a cultura de verão no limpo durante parte do seu ciclo.

4.2- Aplicação em pré-emergência

Nesta modalidade de aplicação, os herbicidas são aplicados após a semeadura do milho, sendo que a grande maioria dos herbicidas aplicados pertence aos grupos químicos das triazinas e das amidas.

Herbicidas do grupo químico das triazinas (ametryne, atrazine, cyanazine e simazine) são utilizados na cultura do milho sobretudo para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas. Em plantas sensíveis a esses herbicidas, há a germinação das sementes; porém, quando as plântulas emergem do solo e recebem luz são desencadeadas reações que afetam a fotossíntese, que levarão à morte da plântula.

Com a finalidade de ampliação do espectro de controle, herbicidas do grupo das triazinas têm sido associados com herbicidas como s-metolachlor, alachlor, simazine, dentre outros. Esses produtos proporcionam controle eficiente da maioria das espécies infestantes e apresentam seletividade para o milho. Triazinas também são empregadas em pós-emergência precoce, destacando-se atrazine, que proporciona bons níveis de controle de plantas daninhas dicotiledôneas.

Herbicidas do grupo químico das amidas (acetochlor, alachlor, dimethenamid e s-metolachlor) possuem mecanismo de ação associado à inibição da parte aérea das plantas. São absorvidos durante o processo germinativo das sementes das plantas daninhas, interferem em diversos processos bioquímicos da plântula e inibem a divisão celular, a síntese de lipídeos, ácidos graxos, ceras foliares, terpenos, flavonóides, proteínas e divisão celular, e também, por interferirem na regulação hormonal (Liebl, 1995; Weed, 2002). Estes herbicidas controlam grande número de espécies mono e dicotiledôneas. Este grupo de herbicidas apresentam amplo perfil de compatibilidade com herbicidas à base de atrazine, cuja combinação dos dois ingredientes ativos oferece um tratamento em pré-emergência bastante eficiente para o controle de uma ampla gama de plantas daninhas dicotiledôneas. As plantas sensíveis são mortas antes da emergência, sem que haja inibição da germinação das sementes nem parada imediata do crescimento, porém o crescimento da raiz é menos sensível que o crescimento da parte aérea (Rizzardi, 2002; Weed,2002).

O herbicida metolachlor é formado por dois isômeros R e dois isômeros S que estão presentes em proporções iguais no herbicida. O isômero S apresenta maior atividade herbicida do que o isômero R (Moser et al., 1983). Com o conhecimento dessa propriedade, Blaser & Sindler (1997), desenvolveram um novo sistema catalítico que produziu uma nova substância enriquecida (>80%) com o S-isômero, a qual foi denominada s-metolachlor ((S)-2-Chloro-N-(2-ethyl-6-methylphenyl)-N-(2-methoxy-1-methylethyl) acetamide).

O efeito fitotóxico desse grupo de herbicida pode ser observado após a germinação das plântulas, caracterizando-se pela não abertura do coleóptilo e pelo enrugamento das folhas definitivas, causados pelo menor crescimento da nervura central em relação ao crescimento do limbo foliar (Figura 2).



Figura 2 – Plantas novas de milho apresentando efeito fitotóxico do herbicida s-metolachlor. Foto: Décio Karam


O herbicida isoxaflutole inibe a síntese de carotenos; tem atividade e absorção foliar principalmente quando misturado com adjuvantes à base de óleo vegetal, podendo ser aplicado antes da semeadura para controlar algumas gramíneas existentes, apresentando efeito residual para controlar as plantas que germinarem no início do ciclo do milho. Seu espectro de controle é melhorado quando é associado a atrazine. O controle das plantas sensíveis poderá ser observado pela não emergência das plantas daninhas, ou pela emergência de plântulas com sintomas de branqueamento das folhas, com posterior morte das plantas. Os sintomas de branqueamento aparecem, inicialmente, nas bordas e nas pontas das folhas e são mais evidentes em folhas novas.

Os herbicidas aspergidos em pré-emergência na cultura do milho apresentam comportamento diferenciado no solo e nas plantas daninhas, e, em situações de reduzida umidade e alta quantidade de palha, possibilitam o surgimento de plantas daninhas ainda durante o período crítico para prevenção da interferência. Esses herbicidas podem ter eficiência comprometida em razão, também, das variações de textura, das características químicas e dos níveis de cobertura do solo com resíduos vegetais.

No sistema de semeadura direta, ocorre maior acúmulo de palha na superfície do solo, podendo afetar o comportamento de herbicidas aplicados sobre a palha em pré-emergência, ficando estes produtos mais expostos à radiação solar, às altas temperaturas e à adsorção nos resíduos vegetais. Alguns produtos, como atrazine, possuem boas perspectivas de uso em pré-emergência sobre palhadas, uma vez que são facilmente lixiviados para o solo com chuvas que ocorram logo após a aplicação. Outros produtos pertencentes ao grupo das amidas possuem problemas de retenção na palha, quando utilizados em pré-emergência em plantio direto.

O desempenho de herbicidas aplicados ao solo para o controle de plantas daninhas em milho não é homogêneo em diferentes ambientes, estando alguns herbicidas mais sujeitos que outros a esse efeito do ambiente. As alterações da quantidade de água na interação herbicida-solo-palha nos primeiros dias após a aplicação dos herbicidas amidas podem ser responsáveis pela maior variação dos efeitos destes herbicidas em relação a outros aplicados ao solo, como isoxaflutole.

Acetochlor tem sido mais eficaz do que s-metolachlor no controle de gramíneas quando aplicado sobre a palha no sistema de semeadura direta e sem chuva após a aplicação, indicando que acetochlor é mais estável nessas condições. Quando ocorre chuva logo após a aplicação, s-metolachlor é mais eficaz do que acetochlor e alachlor. Isso indica que a chuva remove os herbicidas da palha levando-os até o solo, onde s-metolachlor é dissipado mais lentamente, por ter estrutura química mais estável e maior adsorção aos colóides orgânicos e minerais do solo, resultando em maior persistência e controle das plantas daninhas.

4.3- Aplicação em pós-emergência

Esta aplicação é realizada quando as plantas daninhas e a cultura se encontram emergidas. Alguns herbicidas recomendados para serem aplicados em pré-emergência, como as triazinas, também podem ser aplicados em pós.

Com o registro de herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias (nicosulfuron e foransulfuron + iodosulfuron) no Brasil, abriram-se novas perspectivas para o controle de plantas daninhas na cultura do milho. Herbicidas sulfoniluréias inibem a acetolactato sintase (ALS), impedindo a síntese de aminoácidos essenciais, como valina, leucina e isoleucina. O sintoma típico de fitotoxicidade ocasionada pela aplicação de nicosulfuron consiste em descoloração da porção mediana da lâmina das folhas centrais da planta, que se encontram em fase de expansão no momento da aplicação, sendo esse sintoma mais expressivo até sete dias após a aplicação do produto. A seletividade da cultura do milho ao nicosulfuron deve-se à capacidade do milho em metabolizar o produto em compostos não ativos. Cultivares tolerantes parecem metabolizar herbicidas sulfoniluréias mais rapidamente. A partir da existência de tolerância diferencial de híbridos de milho ao nicosulfuron, a sua utilização deve ser restrita a determinados cultivares que tolerem o produto.

A agricultura moderna está utilizando recursos de biotecnologia para proteger e aumentar a produção agrícola. O recente desenvolvimento e comercialização de híbridos de milho que são resistentes a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas (inididores da ALS) introduz novas oportunidades de controle em pós-emergência de espécies daninhas na cultura do milho, além de possibilitar a utilização alternada de herbicidas com mecanismos de ação diferentes. Linhagens de milho tolerantes aos herbicidas imidazolinonas possuem maior habilidade em metabolizar esse tipo de herbicida. Relatos indicam que linhagens tolerantes metabolizam rapidamente o herbicida, mesmo quando doses de imazethapyr são aplicadas em quatro vezes a sua dose normal. Deve ser enfatizado que herbicidas imidazolinonas não podem ser utilizados universalmente em todos os genótipos de milho, mas apenas naqueles que sejam tolerantes.

Outra alternativa de herbicida em pós-emergência disponibilizada recentemente é o carfentrazone. O herbicida carfentrazone pode ser utilizado para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas; seu modo de ação consiste na inibição da enzima protoporfirinogênio oxidase (PROTOX), envolvida na biossíntese da clorofila, resultando no acúmulo de protoporfirinogênio IX (PPIX) no citoplasma (Sherman et al., 1991; Daylan et al., 1997). Na presença de luz, PPIX forma oxigênio singleto, que é responsável pela morte das plantas através da peroxidação das membranas (Devine et al., 1993). Devido a esta ação, os sintomas de fitotoxicidade (Figura 3) podem ser observados dentro de poucas horas após a aplicação (Karam et al., 2004), sendo a morte da planta constatada em uma semana (Daylan et al., 1997).

Recentemente uma nova família de herbicidas, triquetonas, foi descoberta e vem sendo comercializada. Mesotrione, o primeiro herbicida a ser disponibilizado desta família, foi obtido através do isolamento de um aleloquímico (leptospermone) secretado pela planta da espécie Callistemon citrinus (Syngenta, 2004). O modo de ação das triquetonas consiste na inibição da biossíntese de carotenóides através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenilpiruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Os sintomas fitotóxicos observados envolvem o branqueamento das plantas sensíveis (Figura 4 B) com posterior necrose e morte dos tecidos vegetais em cerca de 1 a 2 semanas (Lee, 1997; Witchert et al., 1999).

O herbicida aplicado em pós-emergência deverá ser adequadamente absorvido pelas plantas daninhas para que o controle das mesmas seja eficaz. A eficiência dos herbicidas aplicados em pós-emergência está condicionada, sobretudo, às condições climáticas no momento da aplicação e ao estádio de desenvolvimento das plantas daninhas.



Figura 3 – Fitotoxicidade do herbicida carfentrazone-ethyl em plantas da milho.

4.4- Aplicação em jato dirigido

A aplicação dirigida de herbicidas pode ser realizada quando ocorrerem falhas de aplicação ou de funcionamento do herbicida ou, mesmo, em estratégias de controle seqüencial das plantas daninhas. As aplicações seqüenciais podem possibilitar melhores resultados por proporcionarem, por meio da primeira aplicação, o controle no início do período de competição, ao passo que a segunda aplicação possibilita o controle das plantas não afetadas inicialmente e também daquelas que emergiram após a primeira aplicação.

A aplicação dirigida ou na entrelinha do milho é realizada quando o milho está com cerca de 50 a 80 cm de altura, procurando-se atingir apenas a entrelinha da cultura. Adaptações, como a colocação de pingentes para aproximar os bicos do solo e a pulverização atingir apenas a área da entrelinha, a troca para pontas que trabalham com pressões baixas (15 a 20 lbs pol-2), evitam a deriva. Nesta aplicação, são utilizados produtos não seletivos de ação de contato de forma dirigida.

O uso de paraquat, em jato dirigido, nas entrelinhas do milho é uma prática que vem sendo utilizada em diversas regiões, sem interferir negativamente no desenvolvimento da cultura. Essa prática minimiza possíveis interferências de plantas daninhas que escaparam ao controle dos herbicidas aplicados em pré-emergência ou aquelas que emergiram após a aplicação de herbicidas de pós-emergência. Além disso, é uma estratégia eficiente na redução no banco de sementes de plantas daninhas e no manejo de biótipos de plantas resistentes a herbicidas.

Na aplicação dirigida, apesar de as folhas baixeiras serem pulverizadas diretamente, ocasionando, com isso, sintomas visuais de necrose e perda de área foliar verde, as plantas de milho são capazes de compensar essa perda e, ainda, de alcançar um bom rendimento de grãos, através da redistribuição de carboidratos acumulados na planta.

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