Manejo integrado de doenças na cultura do milho

Autor: Luciano Viana Cota

          Atualmente as doenças constituem um dos principais fatores limitantes a produtividade, e têm causado grandes preocupações nos agentes envolvidos no agronegócio da cultura do milho no Brasil, em razão das perdas que têm ocasionado à produção e dos riscos à saúde humana e animal, com a presença de micotoxinas produzidas por alguns fungos nos grãos. Relatos de perdas na produtividade por causa do ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país. A evolução das doenças na cultura do milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção no Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade do milho, foram também responsáveis pelo aumento da incidência e da severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto sem a rotação de culturas, o aumento do uso de sistemas de irrigação e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para o milho relacionados à ocorrência de doenças.

         Dentre as doenças presentes na cultura milho no Brasil, merecem destaque mancha-branca (mancha-de-phaeosphaeria), cercosporiose, helmintosporiose, ferrugem-polissora, ferrugem-tropical, ferrugem-branca, enfezamento-vermelho e enfezamento-pálido, podridões de colmo e grãos ardidos. Além dessas, nos últimos anos algumas doenças consideradas de menor importância têm ocorrido com elevada severidade em algumas regiões produtoras, como a antracnose-foliar e a mancha-foliar-de-diplodia. A incidência de grãos ardidos, além de reduzir o peso de grãos produzidos, está ainda associada à ocorrência de micotoxinas que podem ter efeitos diretos aos consumidores do milho contaminado. A ocorrência de micotoxinas pode ainda ser utilizada como uma barreira não tarifária para os exportadores de milho. A importância dessas doenças é variável de ano para ano e de região para região, em função das condições climáticas, do nível de suscetibilidade das cultivares plantadas e do sistema de plantio utilizado. No entanto, algumas dessas doenças são de ocorrência mais generalizada nas principais regiões de plantio, como é o caso da mancha-branca. As condições ambientais de cada safra podem influenciar na ocorrência das doenças, a exemplo do que ocorreu com a ferrugem-polissora na região sul do Brasil na safra 2009/2010. Nas últimas safras, a ocorrência de podridões de espigas e grãos ardidos tem sido cada vez mais frequente.

No Brasil, o milho é a cultura mais comumente utilizada, em rotação ou sucessão (safrinha) com a soja. O sistema de produção com sucessão soja/milho tem favorecido a população de nematoides capazes de atacar as duas culturas. O nematoide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus, está amplamente disseminado no Brasil. Na soja, as perdas têm aumentado muito nas últimas safras, especialmente no Brasil central. Embora a maioria dos híbridos e das cultivares de milho disponível no Brasil seja mais tolerante aos nematoides de galhas e a P. brachyurus do que a soja, existe variabilidade entre eles com relação à capacidade de multiplicá-los.

As principais medidas recomendadas para o manejo de doenças na cultura do milho são: utilização de cultivares resistentes; realização do plantio em época adequada, de modo a se evitar que os períodos críticos para a cultura não coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença; utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas; utilização da rotação com culturas não suscetíveis; rotação de cultivares;  manejo adequado da lavoura – adubação equilibrada (N e K), população de plantas adequada, controle de pragas e de plantas invasoras e colheita na época correta. Essas medidas, além de trazerem um benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo dos patógenos presentes na lavoura, contribuem para uma maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presentes nas cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos. A mais atrativa estratégia de manejo de doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de controle e muitas vezes é suficiente para o controle da doença.

Nos últimos anos, a utilização do controle químico está cada vez mais comum na cultura do milho. Os resultados de pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo e por outras instituições de pesquisa demonstram que o uso de fungicidas tem se mostrado uma estratégia viável e eficiente para o manejo de doenças na cultura do milho. Entretanto, alguns fatores devem ser observados para que a relação custo/benefício seja positiva, ou seja, que o benefício do controle das doenças com o uso de fungicidas seja superior ao custo da sua utilização. Dentre esses fatores mais importantes, destacam-se: o conhecimento das principais doenças que ocorrem tanto em regiões quanto em propriedade, o nível de resistência das cultivares às principais doenças, as condições de clima durante o período do ciclo da cultura, o sistema de produção (plantio direto, rotação de culturas, etc.) e a disponibilidade de equipamentos para pulverização. O uso de fungicidas na cultura do milho é recomendado nas situações de elevada severidade de doenças, que são resultantes da combinação de todos, ou alguns, dos seguintes fatores: uso de genótipos suscetíveis, condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças, plantio direto sem rotação de culturas e plantio contínuo de milho na área.

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